Cresce o número de animais, principalmente cães e gatos, que estão sendo abandonados pelas ruas dos mais diversos bairros de Salvador. O abandono acontece muito pelo pânico de que os bichinhos possam transmitir a Covid 19 para o homem, quanto, na verdade, não há nenhuma evidência científica de que isto ocorra, nem relato de caso que tenha acontecido em todo o mundo, até agora.
Para auxiliar no combate à falta de informação sobre o assunto, e ajudar no alívio de mais este estresse causado pelo novo coronavírus, foi criada uma Central de Atendimento, através dos Programas de Residência em Medicina Veterinária da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (Emevz) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A central de plantão foi instalada no Hospital de Medicina Veterinária da UFBA (Hospmev) e funciona de segunda a sexta feira das 8h às 16h, atendendo pelo telefone (71) 3283 -6736.
A ação é coordenada pelo Prof. Rodrigo Bittencourt, que também coordena os Programas de Residência e conta com o suporte do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA), através da Comissão de Saúde Pública e Comissão de Bem Estar. Participam da ação os médicos veterinários residentes do Hospmev e seus preceptores, mestres e doutores.
O Prof. Rodrigo Bittencourt informa que “segundo o Grupo de Bombeiros Voluntários de Salvador, conhecido como K9, o numero de animais abandonados tem crescido muito, após a pandemia. E ONGs de proteção relatam que animais sadios, inclusive de raça, também têm sido abandonados, pelo receio da COVID 19. E acrescenta: “Primeiro existe a questão do bem estar do animal. Animais abandonados sofrem muito. E este ato é considerado maus tratos, considerado crime expresso no art 32 da Lei 9605/95. Depois, animais errantes se reproduzindo e se multiplicando na rua, se tornam mais susceptíveis para contrair doenças infecciosas, muitas delas zoonoses, que podem ser transmitidas ao homem, como por exemplo, a leptospirose, leishmaniose, raiva e a esporotricose, dentre muitas outras.
Veja a seguir respostas do Prof. Rodrigo Bittencourt sobre as principais dúvidas e recomendações na relação da pandemia com os animais de estimação.
Os animais podem atuar como superfície contaminada?
“Imagine-se que uma pessoa com COVID19 espirra sobre uma mesa, outra pessoa toca a mesa e leva as mãos ao rosto. O mesmo acontece com os animais. Por isto a recomendação é que doentes devem manter distância dos seus animais. Há relatos de que gatos deram positivo para o COVID e que tigres adoeceram após contato com tratador com COVID-19. Trabalhos científicos ainda estudam se os felinos e ferrets podem desenvolver a doença. Mas quero enfatizar: que não há nenhuma evidência técnico-científica de que os PETs possam transmitir COVID 19 ao homem”.
Para onde levar esses animais abandonados nas ruas?
“Quem tem feito o resgate destes animais são ONGs e os voluntários do corpo de Bombeiros da Brigada K9. Estes animais são mantidos por ONGs. Há relato de que boa parte é de animais sadios que as pessoas abandonam por medo e degradação da situação econômica da família. As pessoas devem denunciar se alguém abandona o animal, porque é crime. E se identificarem um animal perdido, errante, tentar acionar alguma ONG de proteção animal ou a Brigada dos Bombeiros”.
Qual são as dúvidas mais frequentes de quem procura o plantão da Central de Atendimento?
“As dúvidas mais constantes são as relacionadas à higiene dos PETs, especialmente após o passeio. Temos reforçado que o passeio pode ser feito, se necessário. Neste caso reduzir o tempo na rua, evitar que os animais rolem na grama e, especialmente, fazer a limpeza das patas ao retornar, usando produtos próprios para higiene animal ou um sabão neutro. Não usar álcool gel, pois pode causar irritação e lesões na pele. Outra pergunta recorrente é se realmente cães e gatos não podem transmitir a COVID. Também enfatizamos a inexistência de evidência científica para isto”.
Já existe uma vacina para o coronavírus animal?
“Existem vários coronavírus. O SARS- COV- 2 da COVID-19 é mais um, que há pouco foi identificado. Os dos cães e gatos são outros, que nada tem a ver com este. Para o dos cães existe a vacina, de diferentes laboratórios, que é administrada nas clínicas veterinárias. Para o coronavírus dos felinos, no Brasil ainda não se vacina. As vacinas imunizam contra dez a doze doenças, muitas graves que levam a morte do animal, além da vacina isolada, que imuniza contra a raiva. Os animais abandonados e resgatados, as ONGs tentam fazer a vacinação de todos. Mas precisam de apoio financeiro. Custa caro. Então, quem puder, ajude alguma ONG de proteção animal, pois o custo de manutenção é elevadíssimo. Uma outra sugestão é ter um amigo fiel ao lado. Eles nos fazem muito bem. Isto sim é uma certeza. Basta procurar uma das ONGs em Salvador e fazer uma adoção responsável”.
Uma recomendação final, professor?
“A recomendação geral é que cuidem com amor e carinho dos seus bichinhos. Eles não transmitem a COVID-19. Não há motivo para pânico. Pelo contrário, as evidências científicas mostram que os PETs nos ajudam em momentos de estresse, são amigos fieis e só nos fazem bem. E se o tutor do animal ficar doente, com sinais gripais, testando positivo ou não para a COVID-19, evite o contato físico com o animal. E no caso dos passeios, higienize as patinhas e o focinho, caso seja necessário”