Iniciativas da UFBA cuidam da saúde mental de crianças, adultos e profissionais de saúde

A UFBA tem três projetos de apoio a saúde mental, com projetos que atendem a comunidade interna e externa, gratuitamente, durante a pandemia do coronavírus. Além do conhecido programa Psiu – Universidade, Saúde Mental e Bem-estar, ação consolidada de acolhimento à comunidade interna da UFBA, surgiram recentemente outras duas iniciativas importantes: o apoio psicológico para pais de crianças de 0 a 11 anos; e, em Vitória da Conquista, o suporte psicológico a profissionais de saúde.
 
O trio de ações, cada uma com seu público-alvo, oferece apoio psicológico e dá ênfase aos cuidados à saúde mental num período marcado por inseguranças, mudanças e incertezas ocasionadas pelo coronavírus, que já infectou 1,5 milhão de pessoas no mundo, deixando mais de 88 mil mortos. Todos atendem remotamente, o que reforça uma das principais diretrizes de contenção do vírus, por meio do isolamento e distanciamento social.
 
Apoio psicológico a pais de crianças de 0 a 11 anos
 
O projeto do grupo de pesquisa Parentalidade e Desenvolvimento Socioemocional na Infância, do Instituto de Psicologia da UFBA, busca ajudar os pais nos desafios diários com os pequenos de 0 a 11 anos, não sendo uma terapia em si, mas uma importante ferramenta de apoio.
 
Cinco profissionais de psicologia, entre eles doutorandos e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, além da professora de psicologia da UFBA Patrícia Alvarenga, fazem parte da equipe. O potencial de atendimento do projeto é de 15 a 20 chamadas por dia.
 
“Neste momento, para os pais que estão trabalhando em casa, o principal desafio é conciliar o trabalho e as tarefas domésticas com a necessidade de dedicar tempo e atenção aos filhos. As crianças sentem saudades dos parentes e amigos que estão afastados e têm medo da doença. Além disso, elas têm dificuldade de compreender o que está acontecendo e se aborrecem por ficar por muito tempo em casa. Por todas essas razões elas demandam mais atenção e paciência por parte dos pais”, observa Alvarenga.
 
Ela acredita que o desafio é ainda maior para os pais que perderam o emprego ou estão impossibilitados de trabalhar. “Procurar conter a ansiedade, as preocupações e a sensação de impotência, para que consigam atender a todas essas demandas dos filhos”. Assim, a psicóloga recomenda que os pais também se preocupem com a própria saúde e mantenham o equilíbrio mental e emocional, “para que possam enfrentar esse período com tranquilidade, na medida do possível”.
 
Além do autocuidado, uma rotina diária deve ser estabelecida e integrada com todos os moradores da casa. “Combinar horários e atividades ajuda a família a reservar o tempo necessário para as diferentes tarefas domésticas e de trabalho; ajuda a manter a criança ativa e a ter sono à noite; evita que o tempo seja gasto em atividades que podem gerar ansiedade e mal-estar (por exemplo, se expor a um excesso de más notícias); e faz com que todos sintam que o dia passou depressa e foi bem aproveitado”, afirma Alvarenga, que também é tutora da Residência Multiprofissional em Saúde da Criança do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (Hupes) da UFBA.
 
Os estudos das crianças não podem ser negligenciados no período. “O horário para as atividades escolares da criança deve estar previsto nessa rotina. Caso a escola não esteja mandando tarefas, os pais podem revisar os conteúdos com a criança, refazendo tarefas ou brincando de escola (a criança é o professor e ensina os pais). Os pais também podem propor desafios, como escrever um texto curto com pequenos erros e pedir que a criança o corrija. A rotina combinada em família é também essencial para a harmonia no convívio em espaços pequenos, que tendem a aumentar o desconforto do isolamento e o estresse”, afirma a psicóloga.
 
O contato com os familiares e amigos também deve ser outra prática incentivada pelos pais. Orientando-se pelo isolamento e distanciamento social, os adultos podem usar celulares ou redes sociais como ferramentas de contato, e incluir as crianças no processo.
 
Mesmo no cenário de incertezas e inseguranças trazido pela pandemia, a dica é aproveitar o tempo extra com os filhos “e encarar a pandemia, o distanciamento social e outras dificuldades que venham a surgir como oportunidades para ensinar aos filhos novas habilidades, entre elas, lidar com situações frustrantes ou indesejáveis com paciência e perseverança”.
 
O apoio aos pais é uma prática e campo de estudo frequente do grupo de pesquisa Parentalidade e Desenvolvimento Socioemocional na Infância, do Instituto de Psicologia, que há 15 anos investiga as relações entre pais e filhos e o desenvolvimento infantil. Sua atuação para além da Universidade ganhou ênfase nos últimos sete anos, com programas de intervenção em escolas, hospitais e comunidades para ajudar os pais a estimular o desenvolvimento dos filhos.
 
“Também mantemos um projeto extensão em parceria com o Serviço de Psicologia da UFBA, que oferece psicoterapia breve para pais e crianças participantes das nossas pesquisas. Nossa capacidade de atendimento é limitada, mas esse projeto é uma fonte importante de dados para o aprimoramento dos nossos programas e para a capacitação da equipe”, conta Alvarenga.
 
Profissionais de saúde são o foco de projeto do campus da UFBA em Vitória da Conquista
 
Em Vitória da Conquista, o Instituto Multidisciplinar em Saúde (IMS) da UFBA, por meio de seu curso de graduação de Psicologia e do Mestrado Profissional de Psicologia da Saúde, dará apoio psicológico às pessoas que estão na linha de frente no combate a pandemia: os profissionais de saúde. Os professores responsáveis pelo projeto são Edi Cristina Manfroi, Livia Botelho Felix, Rayana Santedicola, Sérgio Lizias Rocha.
 
“Todos os plantonistas estão com cadastro no CPR (Conselho Regional de Psicologia) e no e-Psi, que regulamenta o atendimento psicológico online. Os docentes responsáveis pela proposta realizaram um treinamento online com o objetivo de capacitar os psicólogos para o atendimento nessa modalidade, onde todos foram orientados a seguir um protocolo elaborado para essa finalidade. O protocolo foi baseado na literatura científica que orienta o psicólogo quanto ao manejo em situações de emergências e desastres”, afirma Edi Manfroi, que é coordenadora do Mestrado Profissional em Psicologia da Saúde do IMS.
 
Para ter acesso aos atendimentos psicológicos, os profissionais de saúde devem acessar a página do Instituto Multidisciplinar em Saúde da UFBA (http://www.ims.ufba.br/) e seguir as orientações para o Plantão Psicológico. “Todas as propostas e atividades seguem as normas do Conselho Federal de Psicologia e do Código de Ética Profissional do Psicólogo”, comenta Manfroi.
 
Outras iniciativas se desenvolverão em conjunto com a secretaria de saúde de Vitória da Conquista e terá a atuação de estudantes de graduação de Psicologia do IMS e outras instituições de ensino superior. A cidade registrou 15 casos confirmados de Covid-19, até quarta-feira, 08 de abril. Outros 40 aguardam resultado de análise laboratorial e 59 aguardam coleta de amostra, da Secretaria Municipal de Saúde do município.
 
Programa Psiu atende à comunidade interna da UFBA
 
Instalado nas dependências da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae), no campus da Federação, o PsiU/UFBA – Programa de Saúde Mental da Universidade Federal da Bahia –  adaptou-se ao cenário de pandemia e, agora, acolhe a comunidade interna remotamente pelo telefone (71) 98707-1041. A demanda atual tem sido de 8 a 10 chamadas por dia.
 
Inaugurado no final de 2017, o Psiu faz a escuta de questões que causam angústia e tensões nos membros da comunidade universitária, formada por estudantes, professores, técnico-administrativos e terceirizados. Mais de três mil atendimentos já foram realizados.
 
Entre os principais relatos em tempos de pandemia, o coordenador do programa, o psiquiatra Marcelo Veras, relata a fragilidade dos laços, a instabilidade e falta concreta de previsão do futuro.
 
“Como a grande parcela de nossos atendimentos se dirige aos jovens, escutamos como é difícil para eles ficarem em confinamento. A universidade para muitos é precisamente o cenário das trocas sociais e da emancipação do ambiente familiar. Com frequência escutei nos últimos dias jovens que não estão sabendo como lidar com o fato de permanecer com os pais, ou mesmo solitários”, afirma.
 
Para o psiquiatra, o modelo presencial é fundamental na experiência psicoterápica. A pandemia, contudo, instaurou a necessidade do atendimento remoto, “uma necessidade técnica, mas está longe de ser o ideal”. “Acredito que nada substitui esse encontro presencial, na intimidade, para capturarmos questões do ser que vão além das palavras. Quando estamos em um atendimento virtual, muitas vezes não nos damos contas de pequenas sutilezas da enunciação, uma pequena emoção ou rubor, que compõem e ajudam a guiar uma entrevista”.
 
O Psiu, que é composto por 18 profissionais, não está sozinho nessa empreitada. O Grupo Sankofa, com psicólogos coordenados pela professora Thais Goldstein, o Grupo Cults, coordenado pela professora Virginia Dazzani, e um grupo de psicólogos também ligados à UFBA, coordenados pela professora Denise Coutinho, se juntaram ao programa Psiu para fortalecer o acolhimento da comunidade interna. “Optamos por centralizar o acolhimento via WhatsApp em um só número, o 987071041, mas na verdade ele funciona como um Hub [centro de operação] comandado por mim que distribui as demandas para outras três iniciativas”.
 
“Com esse apoio em rede de psicólogos conseguimos um número expressivo, cerca de quarenta profissionais entre extensionistas, alunos de pós graduação, professores da UFBA e psicólogos da. UFBA. Podemos dizer que até o momento temos dado conta da demanda”, assegura Marcelo Veras.