Informações sobre prevenção e combate ao coronavírus em bairros populares de Salvador são as bases do projeto interAGIRssa, um verdadeiro convite à ação e à solidariedade. A iniciativa é do grupo de pesquisa EtniCidades – Estudos Étnicos e Raciais em Arquitetura e Urbanismo, do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA.
“O mapeamento permite o entendimento das ações nesse contexto no espaço da cidade de Salvador, e evidencia o quanto a qualidade de infraestrutura urbana significa condições desiguais no enfrentamento e prevenção ao coronavírus”, afirmam a coordenadora do projeto, Any Ivo, e o coordenador do grupo EtniCidades, Fábio Velame, em entrevista por e-mail.
Na avaliação dos professores, o projeto possibilita a troca de experiências e pode contribuir para a articulação dessas comunidades, bem como auxiliar na criação e ajustes de políticas públicas”. O Dicionário de Favelas Marielle Franco, no Rio de Janeiro, que agrupa informações sobre iniciativas de combate e prevenção ao coronavírus em favelas cariocas, inspirou o projeto.
Ações de combate, dificuldades para a prevenção da Covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus -, e serviços à população estão no site do projeto, com localização e informações disponíveis num mapa interativo. Entre as ações em bairros, a campanha de emergência para arrecadar alimentos para a Ocupação Quilombo Paraíso no Subúrbio, feita pelo Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB); o Movimento Corra para o Abraço, divulgada na última edição do Edgardigital, que conta com a participação da UFBA; e, na Pituba, o Coletivo Entidades Negras. Todas essas ações buscam ajudar comunidades vulneráveis que enfrentam a pandemia em Salvador, arrecadando materiais de higiene, alimentos ou doações em dinheiro. Outras iniciativas estão disponíveis no site do projeto.
Serviços públicos também podem ser encontrados no site do projeto. Informações de unidades de saúde, como o Hospital Geral Ernesto Simões Filho, que atende exclusivamente a casos confirmados de Covid-19 e tem 164 leitos, com possibilidade de ampliação. Ou o Instituto Couto Maia, que tem seus esforços voltados ao atendimento exclusivo de casos suspeitos de Covid-19, conta com 32 leitos, com possibilidade de instalação de tenda na área do estacionamento para mais 100 leitos.
Além de informar ações das comunidades, há espaço para denúncias e registro de dificuldades. Um exemplo recente é a redução da oferta de água em diversos bairros de Salvador, que dificulta a batalha contra o coronavírus, que tem na água e sabão, para limpeza das mãos, ou na água sanitária, para limpeza de superfícies, suas principais armas.
Os coordenadores destacam que o mapeamento já aponta para dois grandes temas. O primeiro são as “dificuldades dadas pela qualidade de serviços públicos prestados”. Nesse caso, falta de “saneamento e água aparecem como os problemas mais recorrentes”, além de outros problemas relatados, como ameaças de desapropriação de comunidades, segundo os coordenadores.
Outro desafio apontado é a garantia mínima de subsistência das pessoas. “Isso é evidenciado nas campanhas que, em sua maioria, têm como objetivo arrecadar alimentos e produtos de limpeza. Interessante notar que já aparecem iniciativas que vão além da arrecadação de produtos: englobam a negociação de preços, composição de cestas básicas em articulação com o comercio local dessas comunidades”, afirmam Ivo e Velame.