Profissionais de comunicação e interessados na cobertura jornalística do novo coronavírus tiveram a oportunidade de participar de um webinar sobre jornalismo e mídias sociais em tempos de Covid-19. A atividade, que teve como objetivo estimular a divulgação científica eficiente, foi conduzida por Daiane Machado e Júlia Pescarini, especialistas em epidemiologia, e pelo professor Igor Sacramento, pesquisador em comunicação e saúde.
O seminário foi organizado pela Rede CoVida — Ciência, Informação e Solidariedade —, uma iniciativa do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz) e da UFBA. Realizado no sábado, 28 de março, um dia após o lançamento oficial da CoVida, o evento aconteceu por meio de videoconferência, resguardando participantes e convidados do contato físico, em respeito às recomendações de isolamento social da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde.
A ideia de juntar pesquisadores da epidemiologia e da comunicação social em um mesmo evento teve o propósito de contribuir para a capacitação dos jornalistas a abordar adequadamente as questões relacionadas à Covid-19. “Nesse cenário, em que o conhecimento científico está em construção e há muita incerteza, é preciso que os jornalistas selecionem informações confiáveis, que estejam em um grau de solidez maior. Todo mundo precisa de informações científicas fundamentadas, principalmente em tempos de fake news”, justificou a jornalista do núcleo de comunicação do Cidacs Raíza Tourinho.
Para isso, Daiane Machado afirmou ser necessário que o profissional seja munido das ferramentas e conceitos básicos da epidemiologia. “Saber o que é essa ciência e estar equipado com os conceitos básicos da área são importantes para que os profissionais, ao interpretarem os dados, tenham um olhar crítico antes de comunicar. O jornalismo é a ponta para informar as pessoas, é uma atividade que impacta a sociedade e que também está salvando vidas”, afirmou. A duas epidemiologistas explicaram as principais formas de se interpretar gráficos, características de doenças infecciosas e como aplicar esse conhecimento para entender o novo coronavírus.
Além de ter noções de epidemiologia, entender a nova dinâmica da comunicação, especialmente a virtual, é também uma forma de combater a desinformação, como explicou o professor Igor Sacramento. “Observa-se uma quantidade grande de canais em redes sociais contrariando orientações oficiais de prevenção. Esses canais mostram-se contra a ciência e mantêm uma postura de desconfiança em relação à expertise da saúde. Umas das estratégias para lidar com esse cenário é entender o modo de organização dessas formas de comunicação, pensando com elas, não contra elas”, argumentou.
Ciência, informação e solidariedade
O webinar foi o primeiro evento promovido pela rede CoVida, que reúne mais de 100 profissionais, grande parte deles voluntários, que trabalham para monitorar os casos de coronavírus no Brasil. Liderada pelo professor Maurício Barreto, a iniciativa do Cidacs/Fiocruz e da UFBA, com apoio de outras instituições de pesquisa nacionais e internacionais, tomou forma pouco tempo depois de a OMS declarar o coronavírus uma pandemia. Atualmente, o grupo trabalha em quatro frentes: no monitoramento do avanço da Covid-19 do país, na modelagem matemática (que permite fazer previsões do avanço da epidemia), na síntese das evidências na literatura científica, buscando respostas para o contexto brasileiro, e na disseminação de informações sobre o tema.
A jornalista Raíza Tourinho, do núcleo de Comunicação do Cidacs, explica como funciona a iniciativa. “A CoVida, hoje, possui mais de 100 pessoas e conta com o apoio de muitos voluntários. Somos uma união de profissionais, cada um dentro do seu campo de conhecimento, buscando mitigar os efeitos da pandemia”, afirma. Apesar de recente, a rede já oferece boas ferramentas para equipar gestores, pesquisadores da saúde e profissionais de comunicação em suas atividades e tomadas de decisões, como o painel para monitoramento de dados de coronavírus. Inaugurado na última sexta-feira, 27, a plataforma traz dados atuais sobre a pandemia no país, além de uma previsão da situação nos próximos dias em todos os estados brasileiros.
A criação da ferramenta, disponível no endereço covid19br.org, envolveu matemáticos, epidemiologistas, estatísticos, físicos, cientistas da computação e bioinformatas, seguindo recomendações do Ministério da Saúde. Além do monitoramento, os colaboradores de todo o país também trabalham na síntese da enorme produção científica produzida diária e mundialmente sobre o Covid-19, bem como na divulgação científica desses dados.
Quem perdeu o webinar ao vivo, ainda pode conferir o debate on-line, disponível no canal do Cidacs/Fiocruz no Youtube.