É possível implementar ações remotas de ensino na Universidade, com garantia de acessibilidade universal e mantendo a qualidade acadêmica que distingue os cursos da UFBA?
Antes de responder a essa pergunta e de estabelecer quais seriam os protocolos acadêmicos, institucionais e, logo, coletivos para a adoção de tais ações, a Universidade precisa saber quais as reais condições de acesso a computadores e internet de seus cerca de 45 mil estudantes de graduação e pós-graduação; e que habilidades seus quase 3 mil docentes reúnem, hoje, no uso de plataformas e recursos tecnológicos de EAD.
Para isso, serão lançadas, na segunda-feira, 13 de abril, duas enquetes direcionadas aos corpos discente e docente da Universidade. Cada aluno e cada professor receberá, por e-mail, um convite para participar da enquete, que poderá ser respondida até o dia 22 de abril, anonimamente, pelo computador ou pelo celular.
Coordenada pela Superintendência de Educação a Distância (Sead), a ação visa à elaboração de um diagnóstico mais preciso acerca das condições efetivas de produção, manejo e acesso a conteúdos digitais entre a comunidade universitária neste momento. Esses dados subsidiarão uma análise precisa quanto à viabilidade da ampliação do ensino na modalidade a distância e de outras atividades que utilizem tecnologias remotas.
Paralelamente às enquetes, a Sead elabora também um protocolo de condições e procedimentos para formulação de projetos pedagógicos consistentes contendo ações remotas, a ser debatido criteriosamente e submetido às instâncias colegiadas da universidade.
O questionário dirigido aos estudantes reúne, além de dados do perfil social (cor ou raça, sexo, idade, estado civil, nacionalidade, escolaridade de pais e mães) e econômico (renda, trabalho, bens e moradia), os indicadores de acessibilidade às tecnologias da informação e comunicação (TIC) dentro e, especialmente, fora dos campi da UFBA.
A pesquisa dirigida aos professores, por sua vez, baseia-se em um projeto desenvolvido conjuntamente pela Unidade Móvel de Investigação em Estudos do Local (ELO) da Universidade Aberta de Portugal e pelo Núcleo de Estudos de Pedagogia no Ensino Superior (Nepes) da Universidade de Coimbra, e usa como referencial o Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores (DigCompEdu). Ao final do questionário, o professor recebe um relatório detalhado, que lhe permite refletir sobre seus pontos fortes e fracos no uso de tecnologias digitais para apoiar, incentivar e melhorar a educação.
Educação digital sem improviso
Atento ao debate sobre a utilização de recursos online, ensejado pelo período prolongado de suspensão de atividades presenciais, o reitor João Carlos Salles observa que o resultado das enquetes, qualquer que seja, não necessariamente implicará implementação de aulas remotas enquanto durar a pandemia do coronavírus, uma vez que o calendário acadêmico está oficialmente suspenso pelo Conselho Universitário.
“O tema não pode ser ignorado em tal cenário, mas não precisa nem deve levar-nos ao improviso ou a soluções que desrespeitem nossos princípios ou nossa capacidade de elaborar diagnósticos e propor políticas afirmativas e inclusivas, com garantia de qualidade em nosso ensino, pesquisa e extensão”, afirma o reitor, lembrando também que “não há educação a distância de qualidade, caso separada da universidade presencial. A universidade pública, afinal, com suas dimensões indissociáveis de ensino, pesquisa e extensão são uma pedra de toque da qualidade de nossas ações remotas, de sorte que a inteireza e o fortalecimento da universidade são condição para que tecnologias digitais não se tornem um perigoso artifício”.
Salles pondera ainda que o acesso a computadores e internet pelos estudantes “em condições normais, se dá sobretudo no interior da UFBA, com nossa rede, nossas bibliotecas e salas de informática. Não podemos, então, usar uma crise para agravar a diferença de recursos materiais em nossa comunidade, separando quem devemos unir”.
Em relação às habilidades do corpo docente no manejo de ferramentas digitais, o reitor observa que uma primeira amostragem, a partir da experiência dos ateliês didáticos, “mostra o quão distante está o conjunto de nossos docentes das mínimas condições pedagógicas e tecnológicas para tal empreitada, caso não tenham acesso a uma formação específica.”
A superintendente de Ensino a Distância da UFBA, Márcia Rangel, explica a finalidade da pesquisa, que é estratégica e de longo alcance, e não imediatista. “Estamos buscando subsídios que auxiliem na identificação das vulnerabilidades dos alunos e professores no uso das tecnologias educacionais, para, de forma responsável e de maneira gradual, adequar o uso das tecnologias às praticas pedagógicas e ao perfil dos alunos e professores”.